Carlos Villagrán
Eslava
(12/01/1944-)
"Sou uma
pessoa humilde, sincera, com o privilégio de poder fazer rir
sem ter patrões." - Assim é como Carlos Villagrán se
define. Na verdade, assim como qualquer um, é um ser humano,
que gosta de comer, sair, passear, ir ao cinema e se aceita com
todos os defeitos e poucas virtudes que possa ter como
pessoa.
Nasceu em
12 de janeiro de 1994, na Colônia Nativitas, em Queretaro,
Distrito Federal, no México e, apesar de toda a fama mundial de
hoje, cresceu numa família muito, muito
pobre.
"Éramos
tão pobres, que os pobres não se misturavam conosco, por sermos
pobres."
Tão pobres
que na casa - onde Carlos vivia com seus pais, duas irmãs mais
novas e um irmão mais velho - não havia sapatos, nem colchões
onde dormir e nem portas. Mas nem por isso sua infância foi
triste.
"Quando
não se sabe o que alguém tem ou pode ter, não se dá conta se é
pobre ou rico, pois pra mim nunca faltou nenhum brinquedo...
eram de madeira no Dia de Reis e tinham mais
valor.",
lembra.
Villagrán
já era Quico
desde
criança, e isso sua família pode confirmar. Ainda em sua
infância seu pai o pedia que imitasse seu tio Chapera, que
vivia em Chihuahua, que era quem tinha as "bochechas de
buldogue velho" e Carlos imitava
perfeitamente.
Cresceu com
valores, muitos valores, de cumprimentar as pessoas que
encontrava no elevador. Trabalhou sempre desde criança
crescendo como a maioria das pessoas nesta época: na
Universidade da Vida. Aos 23 anos começou com a fotografia
profissional e trabalhou uma temporada em um dos jornais mais
importantes da Cidade do México. Cobria as partes Sociais,
Esportes, informação geral e Espetáculos. Foi assim que teve a
oportunidade de entrar para a televisão, pois com a credencial
do jornal podia entrar até nos estúdios e pedia trabalho aos
titulares dos programas.
"Fui
fotógrafo do Heraldo em 1967, um ano antes das Olimpíadas no
México. Em 68 foram as Olimpíadas e estavam solicitando
fotógrafos com um pouquinho de experiência e por isso
contratavam um pouco antes para ensinar-los para as Olimpíadas
novas no México."
Sempre quis
ser apenas duas coisas na vida: comediante ou jogador de
futebol. Não pôde ser jogador, mas sempre conseguiu fazer
qualquer um rir.
E Carlos
sempre lembra que o criador de Quico e, portanto dono do
personagem, é ele, não Chespirito.
Segundo
ele, os textos eram de Roberto, mas quem criava o
personagem era o próprio ator que interpretava; e que frases
como "Ya cállate, cállate que me desesperas" (Ai cale-se,
cale-se, cale-se que me deixa louco) foram criadas por ele
mesmo.
"Mas
vamos ser claros, o personagem é meu, eu o inventei, a mim
ninguém me disse como fazê-lo, eu o inventei e o fui
descobrindo; claro, como dá dinheiro, vai alegar
sempre."
"Fazer
um papel, é como fazer um bolo, coloco um pouco mais de
manteiga, provo... não, acho que falta ovo... coloco ovo... e
vai ganhando riqueza... Como eu sabia que podia fazer
"garrrrrrrrr", apliquei isto ao choro de
Quico, mais ninguém sabia que
eu podia fazer esse som gutural, mas eu o apliquei
ao Quico
para enriquecer o personagem. Então eu o
fui formando. Ninguém sabia que eu podia falar com as
bochechas infladas, que é uma facilidade que eu tenho.
Isso adicionei ao personagem, então eu digo que eu o fui
fazendo, o fui enriquecendo. Fomos respeitando os
roteiros, mas o personagem em si cada um o foi
criando."
"Eu não
queria me parecer com Chabelo. Porque então, no staff, quem se
vestia de criança diziam que tinha copiado Chabelo e o
reprovavam; entende? Encontrei o traje de marinheiro e em todo
caso, seu dono seria a Marinha Nacional, pois o traje era usado
desde antes dos tataravôs."
Descobriu o
uniforme de marinheiro no vestuário da Casa Tostado, já que
naquela circunstância Televisa precisava de um
próprio e estava deixando Tostado. E como sempre teve entradas,
pegou um boné e deixou para fora dois chifrinhos de cabelo para
não se parecer com Chabelo, já que esse era seu
medo.
Até
então, Chespirito já o havia visto
interpretando um menino com as bochechas infladas em uma cena,
onde compartia créditos com Fernando Luján e Rafael Inclán,
entre outros; isto muito antes de que existisse o "Chaves". A
obra se chamava "Loquibambia" e foi apresentada no Teatro 29 de
Dezembro. Seu papel foi o de "menino lindo que nasceu à noite,
que tudo o que quer é que o seqüestrem para passear de carro";
uma peça do Teatro do Absurdo.
Mas o
convite para interpretar seu personagem mais famoso que lhe deu
a fama mundial só viria alguns anos mais tarde, em 1971 quando
em uma reunião de amigos de Rubén
Aguirre, este e Carlos Villagrán
representam uma peça que já ensaiavam há algum
tempo. Rubén
fazia um ventríloquo enquanto Carlos
personificava o boneco, sentado em sua perna e inflando as
bochechas.
"Quando
veio a oportunidade no Canal 8 de fazer um programa infantil -
antes de Quico
, muito
antes - trabalhávamos juntos Rubén
Aguirre e eu e pouco
antes de começar o primeiro programa, o cubano Sergio
Peña, me disse: 'Como vou te
chamar?', e eu
digo: 'ora,
Carlos'. 'Não, tem que ter um nome de
guerra' e eu
disse: 'Carlitos'. 'Não gostei'. E cinco minutos antes do
início: 'Vai se
chamar Pirolo!'. 'Não, espere um
pouco...', 'Pirolo!', e ficou
Pirolo",
lembra.
Nos inícios
de Chaves, Jorge Gutiérrez Zamora apresentava
"Carlos Villagrán 'Pirolo'
como 'Quico'" e depois acabaram tirando o
Pirolo.
E Chaves
começou com um sketch de dez minutos de duração onde não se
sabia se teria êxito; se as pessoas iriam gostar; se
continuaria ou não.
"Nesse
momento tivemos resultados imediatos com staff, todos riram;
oito dias depois, faz-se outro sketch de dez minutos; vem a
fusão dos canais do Telesistema Mexicano com a Televisión
Independiente de México (TIM), Canal 8, que foi onde
começamos."
Nasce
a Televisa e "El Chavo del 8",
cujo nome se devia ao fato de ter sido inicialmente produzido
pelo canal 8.
Durante o
auge da vila do Chaves e cada um de seus
personagens, a EMI Capitol aproveitou o destaque
do Quico
e
o chamou para gravar um disco onde Carlos Villagrán
interpretou dez temas que tocaram em todas as rádios do
México em 1976.
As músicas
gravadas neste LP são "Anda, dí que sí", "Me doy", "No llores,
Quico", "Ahora que soy tu amigo (Te quiero mucho, mamá)" e "El
semáforo", além de "Chusma, chusma", "Ya cállate, cállate que
me desesperas", "No me simpatizas", "Quico, el silbador" e "No
seas flojo".
O ator que
durante mais de 25 anos interpreta
Quico, explica porque o
personagem e programa sempre tiveram
êxito:
"O
programa em geral, a maior virtude que tem é o humor sano. Não
promove o sexo, não gera violência e em especial, Kiko é muito
folclórico. É certo que o Chaves é comum, mas é muito
raro ver um personagem que fale com as bochechas infladas, as
pernas tortas, os olhos de ovo frito e esse tipo de coisas
chama muito a atenção. Você vê a forma de chorar e o fato de
ter destaque é porque o personagem chama muito a atenção das
pessoas."
E assim
perduraria durante 7 anos, nos quais todos os atores antes
desconhecidos, ganhariam fama mundial. Até que em 1978, Carlos
Villagrán deixa o seriado para fazer um programa solo, pois seu
personagem estava ficando mais popular que o próprio
protagonista.
"Começou
a haver um pouco de inveja, egoísmos por parte dos outros
companheiros, porque quem mais procuravam era
Quico, o
personagem Quico, não Carlos Villagrán, o
personagem Quico... por causa do jeito, as
bochechas inchadas, a forma de chorar, tudo isso era mais
chamativo, não? E aí começou a haver distanciamento e todo esse
tipo de coisas, e... bom eu preferi sair do programa, antes que
lucrassem em cima de mim e esse tipo de coisas. Ganharam um
pouco de Rubén
Aguirre e
de Edgar
Vivar concretamente,
da Chiquinha que sempre
teve inveja do personagem Quico, não sei por que...
eu acho que tinha inveja porque
Quico se destacava
mais que Chiquinha , ela foi criando
coisas em entrevistas, falava mal do personagem ou de
Carlos Villagrán."
Carlos
Villagrán sai do programa por amor próprio e com ele,
Ramón Valdés,
por solidariedade ao amigo. Quico era o mais
singular de todos; Chaves,
Chiquinha eram mais comuns.
E assim Quico subiu em
popularidade sobre Chaves.
"Era
raríssimo o Quico, era muito folclórico,
chamava muito a atenção. Ramón me dizia: 'Parece que se fez
'Frankestein', com pedaços de mortos.'"
"Chespirito
quiz manter o programa e
apresentou Jaiminho (Raúl 'Chato' Padilla), por favor,
queria substituir Ramón; bom, seu primeiro
erro..."
O
personagem Quico, criado por Carlos
Villagrán, está registrado em nome de
Chespirito.
Roberto tem todos os
direitos sobre o nome e, por isso, Carlos não pode
receber nada pelo personagem, apenas por Kiko (com 'K'),
registrado por ele. Televisa e a Associação
Nacional de Intérpretes (ANDI) há mais ou menos 11 anos
não pagam regalias a ele. Além disso a
Televisa vetou Carlos
Villagrán do México, não permitindo que ele voltasse à
televisão do país.
"Então o
senhor [Emilio] Azcárraga Milmo, que descanse em paz, me chamou
e me disse que queria fazer um programa meu, supervisionado por
Chespirito, mas expliquei que ele e eu tínhamos diferenças, mas
ele me disse que a ele isso não importava, então eu lhe
agradeci e não aceitei."
"Chespirito
é
um grande mentiroso com todas as palavras; é um grande
abusivo com todas as
palavras.", diz
Villagrán.
Isso porque
revistas, pantufas, camisetas, bolas, chaveiros, álbuns,
bonecos, relógios, etc; tudo... por todos os produtos quem
ganha é Roberto Gómez
Bolaños, sendo que o
personagem que mais se vende é Quico.
A ANDI se
defende dizendo que Carlos Villagrán simplesmente não cobra as
regalias porque não quer, pois os cheques o esperam. Apesar
disso a Associação Nacional de Intérpretes nem sequer notificou
o ator sobre a existência desses direitos, divulgou apenas
através de uma revista.
E Villagrán
conta que a Bolaños convinha registrar
seu nombre e de todos os outros personagens e por isso dizia:
"São meus."
"E nós
assinamos um papel naquele momento porque estávamos
necessitados, repito: necessitados."
O choro
de Quico
é
de Carlos Villagrán. Enrique Segoviano o pediu que
chorasse sempre no mesmo lugar, mas não
Chespirito . Como não há jeito,
Carlos registrou o nome com 'K' (Kiko), para que não haja
mais problemas.
"Tudo se
atribui a ele. É uma 'asquerrousa mentirra' de
Chespirito."
"O que
acontece é que, claro, a ele não convém dizer que eu o fiz
porque tenho que cobrar tudo o que ele já cobrou de dinheiro
dos bonecos do Quico que foram vendidos e
como o tem registrado, se defende com o papel que assinamos;
bom, deixe ele; eu sou
feliz."
E, apesar
de tudo, Villagrán sempre gostou muito de ter trabalhado
em Chaves
e
agradece a Chespirito.
"Claro.
É um espaço que marcou todos e nos deu a benção, graças aos
personagens, ao trabalho constante e ao reconhecimento de
várias gerações. Isso é impagável."
"Toda a
vida o agradecerei por tudo o que nos fez, mas
também Chespirito
deveria agradecer o que fizemos por ele.
Fomos um elenco no qual cada um fez o que tinha que fazer
e muito bem."
"A final
de contas, todos que trabalhamos em Chaves, triunfamos de
alguma forma ou de outra e atravessamos
fronteiras."
Além disso,
seu único trabalho no cinema foi feito com
Roberto Gómez
Bolaños, no filme
"El Chanfle".
Depois de
trabalhar com Chespirito e de seus programas
televisivos, Quico começou a se
apresentar em seu circo onde canta, dança e conta histórias por
toda a América Latina, incluindo o Brasil, quando veio em 1996.
Para se apresentar aqui, Carlos Villagrán não só teve que
aprender a falar português, como também a imitar o jeito de
falar e a voz que Nelson Machado (dublador do
Quico no Brasil) usou para
dublar o personagem, pois aqui no Brasil a voz de
Quico é muito mais nasal e
grave que a original. E Carlos conseguiu imitar muito
bem.
"Tive
que aprender a falar português para imitar quem me dublava,
para que quando trabalhasse, houvesse relação entre voz e
imagem."
Depois de
viver durante 8 anos na Venezuela, Villagrán morou durante
algum tempo no Brasil e no Chile, mas atualmente está vivendo
na Argentina. E com orgulho, em todos esses países Carlos
continua a ver Chaves sendo exibido. Casado com a argentina
Nora Tomazzotti e pai de seis filhos (cinco deles casados), ele
se define como um pai normal. Quando está em família, saem para
comer, se divertem.
Em 13 de
julho de 1997, Carlos teria anunciado que pararia de se
apresentar como Kiko e tentaria sorte como escritor e diretor
de filmes de ficção científica. Mas teria desistido, pois ainda
fez muitas apresentações em seu circo com seu personagem,
pois "graças às
vitaminas do público pude seguir
adiante."
Em 1º de
abril de 2000, Carlos Villagrán participou da homenagem
a Chespirito, promovida por Roberto
Gómez Fernández, reencontrando o ex-companheiro após 22 anos
sem se falar. Alguns boatos diziam que ele cobrou para
participar do evento, mas ele desmente.
"O filho
de Roberto Gómez
Bolaños me chamou para
homenagem que o fariam no México, para nos unir. Eu disse
que sim, sem nenhuma condição; sei que saíram publicadas
algumas coisas, que afirmaram que eu cobrei por este
gesto. Isso é mentira. Bem, eu fui; antes nos deixaram em
uma sala e me esconderam. O resto do elenco de Chaves
estava dando uma entrevista à imprensa. Depois, alguém me
chamou e me perguntou se queria subir ao palco. Subi e
dei um abraço, um beijo em Roberto e isso foi
tudo o que aconteceu..."
Pouco tempo
depois, Carlos Villagrán volta para o México, mas apenas para
apresentações em seu circo. Volta a agradecer
Chespirito, pois graças às reprises
dos seriados, as crianças de hoje também o conhecem onde quer
que ele vá. Não voltou para a televisão, mas não por falta de
vontade e desejo, e sim por não haver
contratos.
"Não me
chamaram, suponho que a relação com as redes de televisão do
México anda mal, apesar de que quem me vetou foi
a Televisa."
Às
crianças, Villagrán deixa uma mensagem:
"Às
crianças de ontem peço que se perguntem quais forem seus
valores. Creio que os valores é o que menos deve morrer porque
é o melhor que nos ensinaram. Às de hoje peço que não deixem de
estudar. E que tenham o suficiente caráter no momento preciso,
adequado para dizer 'não'."
"Aí se
forma o caráter, no momento que se diz 'não'. Vão se sentir
orgulhosos desse 'não'. Acho que é o 'não' mais orgulhoso que
vai ter uma criança porque é o maior passo que vão dar em sua
vida."
Atualmente
dorme mais do que o normal para manter a cara de Kiko, quem
nunca deixará de ser.
"Acho
que sou a única criança que tem um adulto por
dentro.", pois passa
mais tempo como criança do que adulto. Isto o ajuda a se manter
magro. Sempre corre e se mantém em forma, pois seu personagem
deve ser dinâmico.
"Creio
que não deve faltar a amizade e é o que está fazendo falta na
humanidade, daí vem todos os males."
Considera
que o amor é básico e fundamental; total e
absoluto.
"Creio
que ninguém se move se não é por amor, assim é até o pior dos
homens."
Por isso,
apesar de tudo, hoje não tem nenhum ressentimento nem raiva
de Chespirito
e
inclusive o admira muito e agradece a vida toda
a Roberto Gómez Bolaños, já que foi quem o
ajudou a crescer na vida... com a colaboração de todos os
outros.
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